Foi em um livro que Manoel de Barros me contou que não se fabrica amor em frascos. Se eu pudesse encontrá-lo hoje gostaria de perguntar se é possível fabricar amor em caixas. Talvez ele se calaria ou então me responderia que a fábrica do amor se fechou na gaiola do passarinho - algo do tipo - palavras que só mais tarde eu compreenderia, porque cresci demais eperdi o olhar inocente que existia no menino que eu era e carrego em mim.
Hoje me vi menino no meio de diversas caixas de papelão. Tinham caixas de vários tamanhos, cores, texturas e porque não dizer sabores.
Experimentei uma caixa com sabor de infância, ganhei armaduras, capacete, escudo e fui herói sem batalha. Me encolhi para caber dentro de uma'caixa-carro' que me levaria para a luta, mas percebi que cresci demais.
Experimentei então uma caixa com sabor de Minas, tinham diversos oratórios sem santos, abertos para diversos corações perdidos. Me ajoelhei mas não rezei, perdi a fé, acho que cresci demais.
Experimentei por último uma caixa com sabor de lembrança, tinha meu pai vivo, medo de bondinho, sorriso no rosto e um Cristo Redentor do tamanho da minha saudade. A minha saudade cresceu demais.
E de tanto experimentar sabores de caixas, aos poucos fui criando-me caixa, descobrindo dentro de mim sentimentos esquecidos, sorrisos revividos, um menino pequeno e grande demais.
Daniel Viana
14/02/2012
Primeiro experimento com as caixas