Raimundo

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Raimundo , o Mundico

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Na sua opinião, o que quer dizer “estar só”?

Ficar na companhia de si mesmo, sem nenhum estranho por perto.

Ah, sim, eu lhes garanto que esse é um belo modo de estar só. Abre-se na memória uma querida janela, na qual aparece, sorridente entre um vaso de cravos e outro de jasmins, a Titti, que está tricotando uma echarpe de lã vermelha, oh, meu Deus, igual àquela que está no pescoço daquele velho insuportável, o senhor Giacomino, a quem você ainda não deu a tal carta de recomendação para o presidente da Congregação de Caridade, seu bom amigo, mas chatíssimo também ele, especialmente se começa a falar das malandragens do seu secretário particular, que ontem… não, quando foi?, anteontem, quando chovia e a praça parecia um lago, com aquele brilho das gotas rebatidas no alegre facho de sol e, na corrida, meu Deus, que embrulhada, o chafariz, aquela banca de jornal, o bonde que chiava estridente na curva, o cachorro que fugia: basta, você estava numa sala de bilhar onde ele também estava, o secretário do presidente da Congregação de Caridade; e que risadinhas ele dava sob o gordo bigode, vendo a sua má sorte, assim que você começou a jogar com o amigo Carlino, chamado Décima-Quinta. E depois? O que aconteceu depois, ao sair da sala de bilhar? Sob um lânguido farol, na rua úmida e deserta, um pobre bêbado melancólico tentava cantar uma velha canção napolitana, que há muitos anos, quase todas as noites, você ouvia cantar naquela Cidadezinha nas montanhas, entre os castanheiros, onde você tinha ido passar as férias para ficar perto da querida Mimi, que depois se casou com o velho comendador Della Venera e morreu no ano seguinte. Oh, querida Mimi! Olhe, lá está ela, nessa outra janela que se abre na memória…

Sim, Sim, meu caros, asseguro-lhes que essa é uma bela maneira de estar só.

Luigi PIRANDELLO - Um, nenhum e cem mil

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